Sonhos

I am wishing on a star…

Sonhos são uma coisa curiosa. Os filmes que vemos ou os livros que lemos enquanto estamos dormindo. Talvez com pouco controle sobre o que estamos vendo. No limite, para trocar o canal ou largar o livro, precisamos acordar.

Ultimamente, um sonho tem sido bastante recorrente. Sonho com estrelas cadentes. Chuvas de meteoros, para ser mais honesta.

Dessa última vez, foi muito curioso. Durante o sonho, com o mesmo cheio apinhado de estrelas cadentes, o meu primeiro pensamento foi agradecer por algo que estava acontecendo no sonho – e acho que não está acontecendo de verdade. E depois, ao ver aquele céu, cheio de estrelas, foi correr até onde o B. estava e dizer: “corre, B., vem ver. É como no sonho que eu tive. Mas agora é real”.

Estou aqui imaginando o que minha cabeça quer tanto que seja real. Na verdade, eu queria que muitas coisas acontecessem. Muitas coisas se resolvem do estado “de excessão” que estão hoje. Mas, no geral, eu não posso declarar que estou vivendo um momento infeliz da vida. Difícil, é verdade. Muito longe do que eu passei em 2012, por exemplo.

Se os nossos sonhos são reflexos simbólicos, a língua que o cérebro, o inconsciente fala, fiquei imaginando o que ele está querendo dizer com a chuva de meteoros.

Claro que a minha primeira elucubração foi pensar no tarot. Primeiro porque é a ferramenta que eu domino. Segundo, porque eu sei do funcionamento simbólico da humanidade. E se for por esse caminho, penso na carta d’A Estrela e nas suas boas esperanças e benesses no caminho.

The Pantom Wise Tarot http://www.phantomwise.com/gallery/tarot/17the+star.jpg.php

Mas, não consegui me controlar e fui buscar aqueles dicionários de sonhos. Aparentemente, sonhar com estrelas cadentes é bastante benéfico e auspicioso. Diz no site que eu visitei que “sonhar com estrela cadente significa que você terá uma notícia maravilhosa que virá carregada de boas surpresas”. Eles também falam dela como “Estrela Guia”, que é meu grande entendimento sobre o arcano A Estrela.

Não sei. Tomara que as coisas apontem para esse lado mesmo. Na verdade, resolvi escrever esse pouquinho porque o “corre, B., vem ver. É como no meu sonho, mas agora é real”, me chamou a atenção. Pareceu, de fato, muito real.

Pietra

A moeda do sexo

Ontem, tardão da noite, estava eu olhando umas coisas na rede… e navegar é assim, uma coisa leva a outra e quando eu me dei conta, estava assistindo aos Webisodes de The Walking Dead. A série em particular, eu curto e acompanho com o B., mas não é minha série favorita. Gosto dela, porém, porque ela tem uma pegada de mostrar a humanidade em uma distopia tremenda e sem grandes regras, como em livros como Brave New World ou 1984. De qualquer forma, acho que é uma imaginação interessante… Um estudo de caso até.

Imagem dos webisodes “The Oath”

Mas, voltando aos episódios de web, que são histórias curtas que contam alguns detalhes que aparecem na série, eu gostei particularmente do último, que inclusive explicado o escrito don’t dead, open inside (sic), chamado The Oath (O Juramento). Além de ter uma qualidade dramática incrível – se fosse um livro, eu o devoraria (hihihi) – pegou num ponto que vem me enchendo a cabeça desde que eu li Ensaio sobre a cegueira. De fato, os webisodes da segunda temporada, Cold Storage, é que tem esse tema mais acentuado, mas de toda forma, a coisa está lá.

Num mundo sem regras e sem leis civis, como essas que estamos sujeitos todos os dias, me chama a atenção como o sexo se torna uma moeda de troca ou de escape, no sentido de que vai para o ponto de onde as perversões saem do armário.

Em estados de excessão, a violência sexual parece se tornar o que é de mais proeminente entre as pessoas… O estupro parece moeda comum ou uma prática aceitável. E fiquei pensando até que ponto esse pensamento não acontece porque estamos em um momento nos quais temos os nossos direitos individuais minimamente resguardados. Não estou dizendo, de forma alguma, que a violência sexual é justificada. EM MOMENTO ALGUM. Mas, ela dança e se esparrama quando o caos se instaura.

Muitos relatos de mulheres durante as guerras, contam sobre isso. Que soldados inimigos e mesmo de seu próprio país invadem locais e estupram mulheres. Na ficção, os renegados no isolamento dos cegos, em Ensaio sobre a cegueira, querem as mulheres como escravas sexuais para liberar comida para os demais. No webisode Cold Storage, o sujeito prendeu a funcionária para ser seu brinquedo. Ninguém, nesses casos, e tantos outros que conhecemos por aí, irá intervir e dizer que aquilo é errado… ou quem diz, perde algo importante, da vida a própria mulher. Enfim… transformar outras pessoas em objetos parece ser um fazer aceitável quando não há regras.

Fiquei pensando também em como as mulheres se tornam vulneráveis por conta de suas vaginas. E como são desejadas. Então, talvez, a melhor saída seja, numa situação hipotética como esta (?), tornar-se efetivamente dona dessa vagina e fazer a coisa correr bem para o seu lado. Claro que nem sempre acaba acontecendo assim, porque muitos são aqueles misóginos que fazem do sexo uma violência, machucando, matando.

O que me mata por dentro é pensar que, no geral, mesmo numa situação que se seja capaz de tomar o controle por meio da vagina, seja ela o mais importante. A descrença de que as mulheres têm suas mentes e espíritos para oferecer. Que podem ser tão líderes e engenhosas como um homem. Afinal de contas, somos todos pessoas.

Temos uma teoria, B. e eu, de que a nossa sociedade é tão sexualizada porque parece que o sexo é a única coisa que as mulheres têm a oferecer. Talvez as mulheres mais livres desse tipo de estigma, martelado por anos e anos dentro de nossas mentes e espíritos, sejam aquelas que pouco ligam para as modas ou os padrões vomitados sobre homens e mulheres, meninos e meninas.

Não acredito que as coisas precisam chegar a extremos. Que para valorizar a inteligência e perspicácia das pessoas, elas devem tornar-se assexuadas. Não. Somos pessoas inteiras. De cabeça e pênis. De cabeça e vagina. E braços, pernas, coração, estômago.

Mas, ainda sou uma pessoa que se impressiona como esse tipo de coisa: vende ou virou tendência de mercado.

Temos tanto mais a oferecer… como pessoas…

Pietra

Relações de trabalho

O que poderia ser trabalho de faculdade, em Sociologia, acaba se tornando um post de blog, 13 anos mais tarde e com implicações psicológicas e antropológicas.

Não tem jeito. A gente tem de trabalhar. É o sustento da casa. Mas, como diz meu pai, “o desgraçado que inventou o trabalho, não tinha o que fazer”. Em parte, concordo. Principalmente, para aquelas pessoas que tem de lidar com o trabalho de um jeito meio forçado. Nem todo mundo faz aquilo que gosta ou ainda, gosta daquilo que faz. Vai no automático. Não vou dizer que é exatamente o meu caso. EU gosto do que eu faço e tendo a achar que a profissão que me escolheu. Fora que, on the side, eu dou conta de fazer uma porção de outras coisas que eu curto. Se produzir é trabalho, então, eu não tenho problema nenhum com ele.

De toda forma, o trabalho está aí no dia a dia. Seja do jeito mais convencional da coisa: CLT, férias, 13o. Seja do jeito mais inventivo. E trabalhar implica em lidar com pessoas. Lidar com pessoas, necessariamente, implica em relações com elas.

Uma vez que passamos mais tempo trabalhando ou produzindo alguma coisa, passamos um tempão tendo de lidar com as pessoas. Duro é quando você vai trabalhar pensando: que loucura alheia vou me deparar hoje?

Quando nos encontramos com pessoas, geralmente aleatórias, porque é fato: certas pessoas não teríamos contato se não fossem as relações de trabalho. A coisa é que, além do que você é ou acredita aparece indiretamente no trabalho, porque além de tudo, existe uma técnica a se aplicar. Uma coisa maior a se fazer.

Estar entre pessoas é fazer as arestas de cada um se tocarem. Muitas vezes, acontecem os desgastes, e as relações se acomodam. As coisas ficam confortáveis. Sempre existirão arestas. Diferenças. Ainda bem. Se todo mundo fosse igual, cairíamos numa distopia real.

O que eu penso é que parece que, ultimamente, os lugares das coisas não ficam claras. Sem dúvida, nem sempre concordamos com o que os superiores, clientes ou (insira aqui um tipo humano com o qual lidamos) fazem, dizem ou direcionam. No entanto, é preciso saber até onde o nosso papel vai. Talvez tenhamos aprendido isso em casa. Talvez em outras relações de trabalho. Mas o fato é que ninguém, seja onde seja, é supremo no que faz. E se for, vale a pena pensar um pouco sobre isso.

Acredito que o nos ajuda a fazer as arestas se passarem de forma mais tranquila é quando estamos inseridos em um ambiente de transparência. Não tem nada pior do que topar com as diferenças no escuro. Porque parece que o que encontramos é imenso ou muito mais prejudicial do que pode realmente ser.

Se nosso ambiente de trabalho for um jarro de cristal, além de mais delicado, ele é mais fácil de observar e apreciar as belezas das diferenças.

Pietra

Livros em cima de livros

Terminei “Não verás país nenhum”. Interessante. Instigante até. A escrita é bem gostosa e embora haja momentos que ela pode ser um pouco confusa, acho que vale a leitura tanto pela reflexão que oferece sobre um “futuro” brasileiro – que na verdade, é o nosso presente levado ao extremo – quanto pelas reflexões da personagem Souza a medida com que todas as calamidades se desenrolam.

Então, já que terminei esse, é a hora de retomar “My life in France”, contando as memórias de Julia Child. Muito bem escrito, por sinal. Eu leio e consigo ouvir a voz da Meryl Streep como Julia no filme “Julie & Julia” contando aqueles causos ótimos.

Acho que essa é uma das coisas que eu mais gosto sobre ler livros. Saber da vida dos outros. Fictícios ou não. As experiências alheias podem nos ensinar coisas muito boas. A cozinha de Julia Child, na França, tornou-se para ela o que escrever, em partes, é para mim: um hobbie, um aproveitamento de tempo com algo que, para ela era um talento que foi desenvolvido, para mim, uma distração e um exercício. Sei lá, acho que gosto de contar coisas. Peguei o livro ontem de noite e fui lendo mais um pouquinho. Aliás, fiquei pensando… ela contando que foi trabalhar para o governo norte-americano na época da Segunda Guerra porque queria fazer algo por seu país. Hoje, trabalhamos, mulheres e homens porque precisamos e é isso aí. Poucas pessoas têm a chance ou a possibilidade de trabalhar porque querem. Trabalhar é uma “obrigação”, é o sustento da casa.

Mas…

  
Ontem ainda, eu estava na casa da minha sogra e vi, empilhados em sua estante, livros do Stephen King. “Zona Morta”, “Carrie”, “O iluminado”, “Dança da morte”, “O cemitério”. Não consegui resistir. Fui mexer na tal pilha.

A maioria deles são livros grossos. Contam as histórias de medo que, algumas conhecemos por filmes, algumas das quais já lemos… E a “Carrie” ficou lá olhando para mim. E fiquei curiosa. “Carrie” é um livro curto. 180 páginas na edição que eu vi: Círculo do Livro, 1983. Aliás, me lembro desse catálogo, rodando a casa da minha avó. Minha mãe leu muitos Sidney Sheldon e Agatha Christie dessas edições. Pensei em tudo que eu li sobre “Carrie” em “Sobre a Escrita” do mesmo Stephen King. Sentei no sofá e comecei. Mas, não apenas atraída pela história da menina telecinética, a qual ele já entrega a letra logo no final da primeira página. Fiquei pensando, enquanto lia, que foi o primeiro livro que rendeu algum dinheiro ao autor. Depois, fiquei pensando nos processos todos que ele conta. De edição, de como sua esposa, Tabitha King, o ajudou a desenvolver as personagens “populares” da escola. No que ele contou sobre a limpeza do vestiário das meninas que fez na indústria têxtil onde trabalhou. Estava tudo lá. Pensei em como a história é gostosa e envolvente. Como é bem escrita e prende. Como “O iluminado” prendeu. Aquela obra é a primeira de tantas outras que foram dando a King estofo e criando uma verdadeira “obra”, um conjunto de textos que configuram toda a sua produção. Evidentemente, como todos os livros dele, não tem uma “genialidade” de escrita. Não é uma obra-prima da literatura, mas meus deuses, como prende. E como se desenrola com pontualidade. E mesmo tratando-se de um assunto sobrenatural, como é verossímil.

Conclusão. Fui até a página 40, sentada no sofá da minha sogra. Não tive coragem de pedir emprestado, afinal eu sei que o jeito que minha sogra cuida dos livros dela é diferente do meu e não queria correr o risco de destratar um dos seus. Vou continuar lendo de pouco quando for até a casa dela. Assim, estou lendo um livro em cima de outro livro. E vai ser como aquela série que a gente gosta, mas pega sem querer, um dia, zapeando a tv. Não gostaria de parar com “My life in France” para ler a “Carrie”. Acho que vai ser um jogo divertido. Aliás, MLF foi uma volta triunfante aos livros físicos. Como eu leio na cama, a lanterninha de livro virou o marcador. Quem sabe, depois desse, eu me pegue no “1984”, o último da safra física que eu comprei e ainda não li…

Pietra

PS: eu não coloquei “Carrie” na minha estante. Quando eu terminar, coloco. Quem mais tem uma coleção no GoodReads?

Conversando e pregando

Pessoas que conversam como se estivessem pregando. Fico cansada. Ou provoco. Sue me!

Cuidado. Pode morder antes da cafeína.

Todo dia na escola termina com um café na lanchonete da esquina. Virou uma espécie de ritual que ajuda a levar as coisas até às 7 da noite que é quando o B. vem me buscar. Gostaria muito de voltar a caminhar de volta para casa, mas aparentemente minha hérnia não concorda com isso. Como estamos tentando conviver em bons termos, eu tendo a aceitar.

Hoje, fui tomar meu cafezinho feliz de fim do dia. Aliás, bem curioso, que café não me tira o sono. Na verdade, poucas coisas me tiram o sono. Eu poderia dormir em cima do teclado do computador que estaria tudo bem. Mas, enfim…

Tinha um sujeito lá na lanchonete batendo papo com a dona do estabelecimento. Dava para ouvir a voz dele já lá da escola. Uma voz profunda. Ou só era alta mesmo. Falava como tinha parado de beber há 30 e tantos anos. Ok, parabéns. Um excelente feito. Só que… a conversa começou a mudar de rumo. Ele começou a dizer, no meio da história que graças a Jesus ele havia parado de beber e que tinha finalmente descoberto o plano que Deus tinha para sua vida quando parou de beber. Até aí, ok de novo, embora eu pense que se a conversa fosse COMIGO ia me matar de tédio. Acho um pouco chato quando as pessoas, ao invés de te contarem um “causo” ou mesmo uma vitória, começam a pregar. Até pode ser que até aquela hora ele não estivesse fazendo aquilo. Mas, eu gosto de pensar em conversas normais nas quais as pessoas contam suas conquistas, seus sucessos e não daquelas que qualquer coisa que tenha acontecido tenha um ar sobrenatural. Nem mesmo da minha própria espiritualidade. Não acho MESMO que os Deuses estão em cima da gente anotando o que estamos fazendo, vencendo ou perdendo, descontando pontos como um professor cri cri. Acho que olham pela gente? Sem dúvida! Só não acho que absolutamente tudo que me aconteça seja um plano de Zeus para minha vida. Se fosse assim, entrega pra Zeus e segue, certo? Errado! O que é de cada um de nós se amarrarmos o burro na sombra e não levarmos as vidas com os próprios pés? Vamos ter apenas o que o vento trás. Muitas vezes, poeira. O que eu percebo é que a única coisa que cai do céu é raio. De Zeus. E olhe lá.

Mas, continuei quieta. Afinal de contas, a conversa não era comigo.

Até que, no meio do meu cafezinho, o sujeito me olha e diz: Deus pode te livrar dos hábitos. De qualquer vício. Você acha que pode precisar de café, por exemplo,  para seguir seu dia. Mas não precisa. Só precisa ter Deus no coração.

Claro que a conversa não foi nominal. Mas, achei chato. Terminei meu café. Pedi outro. Tomei com gosto. A dona da lanchonete me olhou com um ar de cumplicidade. Disse para ela: “anota os cafés, Nete, que eu te pago sexta-feira”. Ao que ela responde: “não esquenta. Café no fim dia é merecido”. O sujeito se calou. Eu saí de alma lavada e uma energia extra para dar uma geral na sala. Devia ter pedido uma pinga. Aí a conversa ia ficar interessante.

Logo em seguida, o B. chegou para irmos para casa. Graças a Zeus!

Pietra

Distopia brasileira

Geralmente, quando pensamos em “distopias”, determinados clássicos vêm à mente: “1984”, George Orwell ou “Admirável Mundo Novo”, Aldous Huxley. Cenários de um futuro indeterminado onde os governos são autoritários, intocáveis e a sociedade funciona de uma forma diferente da nossa, mas que emergiu do colapso daquilo que conhecemos. Curioso é que os autores normalmente se valem daquilo que vêem como periclitante em seu tempo, colocando em seu “futuro” aquilo que já existe, assim, em alguns casos, a TV é o ópio do povo, não a internet… os celulares ainda não formaram zumbis sociais… mas, dá pra ter uma ideia… é o futuro da realidade, do tempo nos quais as distopias foram escritas.

Edição de 2008 . da Global Editora. Eu estou lendo no Kindle, baixado formato MOBI da Lê Livros – http://www.lelivros.site

Bem, aqui no Brasil temos um distopia interessante a ser conhecida também. “Não verás país nenhum”, de Ignácio de Loyola Brandão é um desses livros de deixar a gente de cabelo em pé e, no meu caso, doente para saber o que vai acontecer no final.

Primeiro de tudo, eu resolvi ler o livro por dois motivos:

  • É fundamental conhecermos a Literatura Brasileira e o que ela nos apresenta em seus clássicos além das leituras obrigatórias do ENEM e dos vestibulares ou aquilo que os professores nos enfiaram garganta abaixo no Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio. Na maioria das vezes, são textos excelentes que não temos maturidade para ler e entender como a obra pede. Além disso, muitas das “leituras obrigatórias” circundam entre um determinado período histórico/ literário deixando livros maravilhosos de lado, e fazendo com que o conhecimento geral sobre literatura acabe se prendendo a Machado de Assis ou José de Alencar – não que sejam ruins – mas temos muito mais que isso.
  • Se Ignácio de Loyola Brandão é um grande escritor brasileiro, contemporâneo e, melhor de tudo, vivo porque não aprofundar-se em sua obra? O mais gostoso é que, se você gosta do jeito que ele escreve e pensa pode acompanha-lo no jornal “O Estado de São Paulo”.

Muito bem… distopia. Um universo incomum, desconhecido… baseado naquilo que a sociedade já foi um dia. “Não verás país nenhum” foi escrito em 1981 e conta sobre um Brasil que está desertificado, superpopulado, com pessoas incapazes de pensar por si e aceitam, meio ao calor dos dias e das “comodidades” do Esquema (o governo) o que lhes é provido ou racionado.  Aliás, existe escassez de recursos naturais. Ah, a comida servida para o povo é uma imitação de comidas verdadeiras, ou seja, tudo é feito em laboratório. Parte do país foi vendido para o estrangeiro e os brasileiros pegos no meio da negociata são tratados como refugiados. As pessoas estão doentes pela falta de água, excesso de sol e comidas químicas. Opa, pera aí? Parece familiar?

Evidentemente estamos falando de uma ficção, mas é curioso como o nosso país e o jeito de fazer as coisas parecem que sempre levam para o mesmo lugar. Os alimentos transgênicos estão no mercado… tudo bem que não são comida “factícia”, mas não são o melhor que a terra pode oferecer. A água falta em São Paulo, fato. Falta de cuidado e planejamento. Ainda não estão distribuindo fichas para o nosso consumo, mas convenhamos que é caro e está sendo levado ao extremo.

O que o “Esquema” faz circula dentro dele mesmo. É um governo que se gere e se gesta de forma que o que está dentro não sai e o que está fora não entra. Hoje isso pode aparecer um pouco mais frente às questões político partidárias, mas oras bolas, qualquer romance histórico que for lido ou qualquer escrutino da História brasileira conta como as coisas sempre foram feitas, politicamente, de um jeito porco e que valoriza apenas que já está com as mãos lá. O encanamento governamental é podre desde a época de Cabral. Não é o X ou Y que fizeram as coisas ficarem assim. O lance é que nem X nem Y movimentaram-se para limpar.

Pode ser que nunca encontremos a São Paulo que Brandão coloca em seu livro. Mas certamente nos faz pensar frente à situação que vivemos hoje em dia. O quanto das pessoas já não estão presas dentro de casa? O quanto de fome ainda não se passa por aí? O quão abarrotados e burocráticos são os sistemas de qualquer coisas pública que se precise fazer nesse Brasil…

A leitura em si não é complicada e, uma vez que você lida com as nomenclaturas da realidade distópica, como factício, esquema, locupletação, a história flui. O livro é longo, tem muitos capítulos curtos e, pessoalmente, não consegui largar até o final.

Recomendo para quem tem curiosidade sobre a escrita brasileira contemporânea de qualidade. Recomendo para quem, como eu ou como meus avós, imagina(va) onde é que vamos parar.

Pietra

Um novo “e se”…

  Depois de ler algumas coisas e pensar um pouquinho, resolvi – pelo menos por enquanto – que a melhor coisa para começar uma nova história é o “e se…”

Depois de escrever alguns contos, resolvi lançar mão de fazer um livro… talvez fique curtinho como “Memórias de minhas putas tristes”, mas quem dera tivesse uma questão tão instigante quanto.

Então, o “e se…” veio.

E se você se reencontrasse criança? 

Já pensei nisso muitas vezes, quem sabe até numa pegada “De volta para o futuro” ou “Em algum lugar do passado”. Ou mesmo sob as ponderações de: se eu soubesse aos (insira aqui uma idade) o que eu sei hoje. Será que realmente faria diferença?

Assim, comecei a escrita. Ainda o que eu tenho é o “osso” da história.

Pensei um pouco em o que eu faria se me encontrasse pequena. Ou ainda, se eu-futura me encontrasse hoje e me contasse coisas que ainda estão por vir. Eu acho que passamos por coisas tão insólitas durante a vida, ou no limite, tão inesperadas, que mesmo se alguém contasse, a gente não acreditaria. E os oráculos, alguém pode perguntar. Olha, da minha experiência, as pessoas geralmente vem buscar um oráculo quando querem uma confirmação para o que já estão pensando ou quando precisam de uma orientação sobre determinadas coisas. Dificilmente, alguém busca uma leitura de tarot do nada para saber sobre o que nem imaginam. Assim, eu estou aqui pensando que, mesmo que nos contassem coisas do tipo: você vai se casar com um milionário ou você vai ser mandado embora amanhã (sendo que tudo está aparentemente bem), você não acreditaria.

Eu sei que isso tudo leva a uma literatura um pouco fantástica. Mas, depois de algumas doses de “O homem duplicado”, de Josá Saramago ou “Incidente em Antares”, do Érico Veríssimo… por que não? Coisas estranhas podem acontecer em nossas vidas.

Então, deixo aqui a minha provocação e quem sabe, uma pequena pesquisa sobre o que os leitores desse blog pensam sobre o assunto: se vc se encontrasse na infância e tivesse chance de interagir consigo mesmo, que tipo de coisa diria ou que cuidado teria?

Pietra, que tem escrito muito em seu caderno sobre essa história e bem pouco no seu computador – tem vergonha na cara, menina!

Julie & Julia

O filme “Julie & Júlia”, 2009 , é uma graça e voltou a me inspirar. Sempre tem uma coisa nova nos filmes que a gente gosta, não é?

Bem, vendo o filme no último domingo, me peguei em várias questões. Uma delas foi a cozinha. Essa história de hérnia de disco tira o humor para uma porção de coisas. Fazer a janta nossa de cada dia é uma delas.  Vendo o desafio que Julie Powell se impôs, na vida real, de fazer todas as receitas do livro “Mastering the art of French cooking”, da Julia Child, me deu um gás de novo. Eu gosto de cozinhar. Adoro inventar temperos, misturar texturas. Pedi panelas de presente para minha mãe. Achei que estava deixando uma coisa que me agrada e me dá ânimo passar em branco. Quer saber? Ontem mesmo passei no mercadinho do bairro e estoquei umas coisas. Em tudo dando certo, hoje teremos costelinha de porco assada no molho barbecue de Jack Daniel’s. 

  
Uma outra coisa que me pegou foram as indagações de Julie sobre a escrita do blog dela, contando o desafio. Tudo bem que ela começou em 2002 e a blogosfera era bem menor, aqui no Brasil o acesso à internet era bem mais restrito. Mas ela tinha uma inquietação. Que é a minha tb: será que não estamos apenas jogando palavras num buraco negro imenso que é a internet? Quero dizer, tantos blogs por aí falando de tudo um pouco. Alguns mais famosos, outros anônimos. Mas ainda, estamos usando uma chance de colocar alguma opinião sobre alguma coisa qualquer por aí. Um dia, alguém pesca. Com sorte, seus pensamentos entram em consonância com os de outras pessoas é uma mini rede se forma dentro da Rede Mundial. Tempo, sorte e dedicação, eu imagino. 

Essa mesma inquietação me colocou pensando em termos dos textos que eu escrevo literariamente. Com tantos livros publicados e auto-publicados por aí, o que impede que os meus sejam também mais uma jogação de palavras no void da Amazon? Nada, na verdade. O que me dá estímulo, no entanto, é que cada um deles são histórias que eu gostaria de contar para alguém. Gostaria que se espalhassem. E se tiverem um mínimo de arte e criatividade nelas, quão melhor. B. disse que é um trabalho de formiguinha. Que a gente não tem de escrever pensando em sucesso em massa. É um fazer artístico. Tomara =)

Enfim, o filme foi feito baseado em um livro. O da própria Julie Powell romantizando o que aconteceu nesse período do desafio. Junto com ele, as memórias de Julia Child que foram deliciosamente escritos por Alex Prud’homme . Ambos tenho em casa. O segundo, deixei pela metade, não sei exatamente por quê. E desde domingo estou arrependida em ter feito isso. 

Assim, em um filme de uns 80 e poucos minutos, eu tirei algumas resoluções importantes:

  1. Vou terminar de ler “My life in France”, as memórias de Julia Child. Pocket book, leio rapidinho. 
  2. Antes vou ter de terminar “Não verás país algum”, do Ignacio de Loyola Brandão. Sabe aquele diacho de livro que vc QUER saber onde termina?
  3. Vou ser mais amiga desse blog, coitado. Por mais que sejam palavras no void da Internet, eu gosto do registro que se torna. E é uma boa válvula de escape e de treino de escrita. 
  4. Não vou deixar o fantasma da fome instalar-se na geladeira. 
  5. E daí que meus contos venderam bem pouquinho na Amazon? Prefiro me focar nas boas almas que me deram uma chance e quiçá gostaram do que eu escrevi. 
  6. Vou sentar meu bumbum na cadeira e começar a rechear a história que eu estou escrevendo, um primeiro livro. 

Então, vamos lá. 

Ps. A costelinha ficou boa. 

Pietra

    Uma ponderação sobre livros clássicos

    Consegui um freela, por assim dizer, como colunista no portal Amplifique-se. E um dos temas é Literatura. Então, pensando em temas bacanas para o leitor em geral, que busca alternativas (clássicas, hahahaha) para o nosso mundo editorial recheado de caça níqueis, resolvi dar um incitada no povo sobre a leitura dos clássicos e contar um pouco da minha perspectiva e da minha experiência com esses textos.

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    Assim, confira no Amplifique-se a coluna de Literatura – feita pela Tathy – e no texto sobre livros clássicos!

    http://amplifiquese.com.br/classicos-sao-classicos-e-vice-versa/

    Pietra

    Escrita beat

    Segundo a amada C., eu ando muito beat (como beatnik)… tomando opióide e escrevendo.

    Vou ser honesta. Na verdade, no estado de medicação que eu estou, não tem como não ser. Essa coisa de produtos do ópio fazem uma diferença razoável no seu estado de espírito e de ser. Não estou incitando ninguém a abusar desse tipo de medicamento – mesmo pq, por vias normais, só pode ser comprado com receita e ela fica retida – mas, que mexe com o que vc é, isso mexe. Tem aquele lance de dar um “gostosinho”. Descobri inclusive, que existem pessoas que tomam o mesmo medicamento que eu, em doses de até 400mg por dia, para ter esse barato. Juro, trocaria tudo isso pela beleza de não ter dor, mas isso é outra história.

    Nesse momento, seu eu quisesse, poderia dançar. O que eu adoro fazer. Poderia subir ao quarto e fazer mts estripulias. Sabendo inclusive do preço que eu ia pagar amanhã. Coluna travada, por exemplo.

    A grande coisa é que parece que existe um senso de paz interna. Que existem coisas que aparecem mais claramente na sua cabeça. Já me questionei várias vezes se o pico da minha produção escrita, quiçá literária, não se deve ao medicamento do que meramente a um talento.

    Eu já soube de muitos escritores que escreveram sob a influência de muitas coisas. Não tem jeito. Tudo aquilo que tira o filtro do superego, faz diferença. O que me incomoda é pensar que isso precisa ser uma rotina, caso contrário, não existem ideias.

    Sabe, uma vez, eu me cortei sem querer num momento bem ruim da minha vida. E por alguns minutos eu entendi porque as pessoas fazem automutilação. Porque acontece um certo alívio de uma dor intangível. Entendo perfeitamente porque as pessoas bebem… e como o sentimento de ficar “tontinha” deixa as coisas mais leves.

    O medicamento faz a mesma coisa. Tomando opióide, eu entendo porque tem gente que se vicia em heroína. Em morfina. Em todos os outros subprodutos do ópio.

    A minha pergunta é: quando saímos da desculpa de Heminway para efetivamente sermos donos de nossa produção?

    A Musa é eterea. E não precisa desses estimulantes. Eu mesma sou uma pessoa que acha que tomar Aywasca é o fim da picada. Mas isso sou eu. Acredito piamente que somos capazes de fazer pessoalmente aquele olhar por dentro para compreender o que está acontecendo. Podemos mascarar isso com todas as desculpas do mundo? Evidentemente que sim. Mas ainda, as respostas estão todas ali.

    Aliás, acho curioso demais escrever tudo isso sob efeito de um remédio. Prometo que quando esse martírio acabar, eu vou continuar nas palavras. Porque eu creio que o que eu sei sobre escrita vai além do vermelho das papoulas.

    Pietra