A vida dos outros

Não tem jeito. O ser humano é curioso por si. Precisa dar uma espiada no quintal alheio e corre um risco sério de entrar em paranoias sobre a grama verde do outro. Tanto que hoje, uma das coisas que mais se vende em edições de autoajuda é exatamente como lidar com o contrário. Olhar para o próprio jardim.

  
Vivemos num mundo onde esse movimento é amplamente disponível. Você pode futricar a vida alheia nas redes sociais – mediante ao que elas permitem, mas quem não curte um IBOPE na rede? – programas de TV que expõem as pessoas, sejam armados ou não, tabloides eletrônicos ou impressos de fofocas dos famosos (?). De tudo isso, o que eu acho que podemos limpar e perceber é: a vida das pessoas interessa.

De fato interessa. E eu penso que se a vida alheia for bem contada, ela pode se tornar fonte de inspiração, de atenção e de cuidado. Um recado que pode fazer as nossas próprias muito melhores.

Claro que muitas coisas que lemos estão no quesito ficção. Histórias de pessoas que nunca existiram, mas que podem ensinar imensamente. Mesmo por que, penso eu, muito do que se escreve em ficção está baseado na vida real. A Arte imita a vida. É o que eu acredito. Mesmo porque quantas coisas acontecem em nossos quintais que são mais incríveis do que os clássicos?

Histórias como as contadas por Nelson Rodrigues, por exemplo, me fazem pensar muito em quem foram as pessoas que inspiraram aqueles contos. Certeza que existem fatos romantizados, ficcionados… Mas, acredito que a essência da coisa esteja entre nós. Aposto que todas as histórias contadas aconteceram com alguém em algum ponto, em algum lugar.

Por essas e por outras que eu tenho escrito no Medium as histórias de pessoas que eu conheço e de pessoas que eu não conheço. Por isso que eu mantenho os ouvidos abertos quando estou em lugares públicos.

Sim, as pessoas gostam de uma boa história. Real… ou irreal (?).

Pietra

De volta à luz

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Onde eu estava nos últimos 6 meses?

Ah, é… andando de mãos dadas com a minha escuridão. Com meu ser cacto. Com aquela mulher contorcida que me olhava do espelho.

Fui posta para dormir. Quando acordei, estava numa bolhinha. Foi em suas paredes que eu consegui perceber o que estava acontecendo comigo. Talvez tenha sido o luto, de tudo que eu acho que perdi nesse tempo. Eu pensei que estava plantando alguma coisa, porém, nas últimas semanas antes da cirurgia, talvez, eu tenha passado por cima do campo com um rastelo. Ainda não sei.

Bem, levantei e o sol nasceu. Como o girassol, aos poucos todo o corpo se volta para a luz. Procura esse energia tão nutridora e tão aconchegante.

Estou voltando a ser quem eu era sou.

É o sentimento que não tem preço de olhar-se e reconhecer-se. De aprontar-se. Para tudo mais que vem agora.

Vamos lá, começar tudo de novo!

Pi

Projeto: Histórias de gente que eu conheço, histórias de gente que eu não conheço 


Resolvi usar o site Medium para escrever algumas histórias. Em inglês.

Por quê?

  1. No Medium, temos uma plataforma feita pelos mesmos donos do Twitter. É uma plataforma para textos, que lembra bastante qualquer outra de blog. A diferença é que a estratégia de escrita é parecida com a do Twitter. Imagine algo como o casamento do WordPress com o Twitter. Aí está o Medium. Até um tempo atrás, ele era apenas para convidados. Agora, você pode fazer sua página lá e compartilhar suas histórias. Escritores, jornalistas, formadores de opinião estavam usando como uma vitrine de seus trabalhos. Hoje, eu me arrisco a dizer que se trata de uma espécie de revista online, onde você pode buscar assuntos de interesse e ler textos sobre eles. Pessoalmente, eu gostei do visual limpo dele e da forma com que os textos podem ser feitos e compartilhados. Assim, resolvi usar para esse projeto.
  2. Fiquei pensando em como a vida das pessoas são ricas e significativas. No geral, a vida vai um pouco além da arte e as vidas das pessoas pode dar um livro. Então, resolvi escrever um pouco de não-ficção. Não informativa, mas contando histórias reais de pessoas que eu conheço e de pessoas que eu não conheço. Aquelas que os ouvidos curiosos acabam pescando na vida.
  3. Em inglês, para exercitar um pouco a L2 e descobrir se eu consigo escolher bem palavras na minha segunda língua. Também tem o fato de que meus textos são feitos em português, então, por que não tentar um público diferente?

Por todas essas e por mais algumas, já coloquei uma história lá no Medium.

Quer arriscar?

https://medium.com/@PietraLuna/this-is-someone-i-know-5ea55a5b3fb7

A história de Alice, uma mulher que conheci.

Pietra

Agradecimento

Grata. É como eu me sinto.

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Faz 10 dias que a cirurgia aconteceu. E depois de um período sem energia e de recuperação mesmo – afinal de contas, tem um corte nas minhas costas – eu consegui sair de casa para resolver coisas menores, mas que foram muito importantes para mim. Pode parecer a maior besteira do universo, mas, colocar a cara na rua e ver as pessoas fazendo coisas me encheu de alegria, de esperança em todas as tantas coisas que eu vou poder fazer daqui para frente.

Pensei também em como eu consegui levar a vida por seis meses com tanta dor e medicação que hoje consigo perceber como era forte. Eu sinto que estou me encaixando de volta no meu corpo, no meu ser. Estou voltando a ser exatamente o que eu era. Sinto-me pessoa primavera.

E, tudo isso se resume assim: eu sinto uma gratidão que não tem tamanho.  Além de ser grata por poder voltar para minha casa, para o meu domínio – Hera saída do estômago de Cronos – a alegria de poder olhar para uma caixa fechada de Tramal e dizer: não, obrigada. Dipirona está suficiente.

Agradeço imensamente a quem quer que seja que puxe as cordinhas do destino (hihihi – e sabemos quem São) por voltar a insurnar os meus bichos, voltar a pensar claramente, sentir uma dorzinha que eu sei que é o machucado sarando.

Nem sei o que dizer das pessoas que estiveram envolvidas em tudo que eu vi e fiz. E o que fizeram por mim. Desde o médico (mãos curandeiras) que entendeu o que estava acontecendo e prontamente desdobrou-se para resolver o meu problema. Inclusive, disse que as coisas acontecem quando tem de acontecer – e quando o momento chegou, estava pronto para mim. Pode ser sim que para ele fosse apenas mais uma quinta-feira de manhã, fazendo seu trabalho. Mudou a minha vida. Obrigada, doutor! De verdade!

Meus pais e sua dedicação incansável… de estar ali do meu lado, trocar curativos, administrar remédios, preocuparem-se com meus movimentos, com o que eu queria ou não comer. Da paciência da minha mãe, ao ver altos e baixos e sorrir, me abraçar e SABER que passaria. E passou. Minha mãe tornou-se uma Musa marinha, de amor oceânico: profundo, calmo e acolhedor. Amo vcs!

Meus sogros, meus segundos pais, que foram a base para que tudo isso pudesse acontecer. Eu nem sei como agradecer o esforço que fazem mensalmente para que tudo ficasse em ordem. Além das visitas, dos mimos e dos infinitos abraços que desferem todas as vezes que apareço ou aparecem. Amo vcs!

Minhas irmãs, de sangue e de espírito, que tomaram parte do seu tempo, embora preocupadas com questões pessoais sérias e iguais,  para ouvir blá blá blá e me compensarem com sorrisos e histórias. M. & C., vcs foram apoio para esses pés dormentes. Amo vcs!

Meu marido por sua dedicação de tempo e de físico. Nutriu-me de amor e de atenção todo tempo que eu precisei. Colocou-me de volta nos trilhos quando a minha cabeça cheia de química enegrecia. B. tem o maior colo do mundo. E tenho certeza que nenhum outro em nenhum tempo dedicaria o que B. dedicou a mim. Amo vc!

As pessoas maravilhosas que trabalham na escola que acolheram minha condição desde o dia 1. A humanidade que perpassa aquela escola, aquele ambiente de trabalho é algo que não tem precedentes. Educação é isso. Estar junto com as pessoas e apoia-las para crescerem. As professoras e outros profissionais da escola foram para além de seu papel comigo. Foram meus anjos da guarda enquanto eu tinha dor. Mandam recadinhos quando ela passou. Nunca trabalhei com pessoas assim. Amo vcs!

Tudo que aconteceu no capítulo anterior está virando apenas uma cicatriz. Uma marquinha que há de me lembrar, todos os dias, que eu dobro, mas não quebro. Que o estado natural das coisas é o bem. O Bom, o Belo e o Verdadeiro. Que existem tantas outras páginas a serem preenchidas, talvez com pequenas histórias de terror – afinal de contas, eu já vi isso antes – mas que se tornam apenas contos curtos na roda de vida que nos permite abrir os olhos e respirar. Ar fresco de uma manhã de primavera, recheada de cantoria de sabiás. Bom dia!

Pietra

Microdistectomia lombar

Quieta aqui no meu canto, descobri coisas muito curiosas sobre o procedimento que eu passei. A cirurgia tem esse nome imenso: microfistectomia lombar. Uma cirurgia pouco invasiva e que não tira o disco de dentro da vértebra. Ele apenas corta fora o pedaço herniado para que o nervo ou raiz nervosa pare de ser comprimida, inflamar e você, paciente, pare de sofrer. 

  Bom, fiz algumas pesquisas. Em português, acha-se pouquíssimas coisas sobre o procedimento. Na verdade, em português, o que encontramos são escritos médicos ou sites e histórias dissuadindo pessoas de fazer cirurgia. Que é possível viver com a hérnia de disco. Até pode ser, mas se ela está extrusa, o mais importante é ouvir o médico. O meu disse: faça. 

Amanhã faz uma semana que ela aconteceu. Sinto-me bem, tranquila e sem as altas doses de tramadol. Pode ser que haja um pouco de tristeza e choradeira. Além do mundo de remédios que estão saindo do corpo, um pedacinho de vc foi tirado. Parece maluco, mas é estranho. Além disso, eu sinto que é um procedimento que mexe com as suas estruturas – a coluna – e te segura um pouco. Tira um tanto de energia. Eu chorei. Acho que choro um tico todos os dias. Mas, a dor de hoje vira a força de amanhã. 

Há dor. Tanto nas costas quanto na perna, no mesmo lugar que doía antes. Estou com remédios para a dor que compramos em farmácia sem receita. 

Eu estava um tico preocupada com a dor, mas pesquisando em inglês, descobri que se trata do nervo sarando da inflamação. 

Dá para andar. De fato, já deu horas depois da cirurgia. E é ótimo. Andar alivia as dores e mostra onde estamos em relação à recuperação. Digamos que é uma dor honesta. 

Precisa mesmo de bastante repouso. Embora o corte seja pequeno e, possivelmente, não haja outras costuras, as coisas precisam voltar para o lugar e o disco, que foi cortado para tirar a hérnia, precisa cicatrizar tb. Ficar na mesma posição mt tempo tb doi. 

Enfim… Estou escrevendo isso porque pode ser que alguém passe por isso. Que tenha que tomar essa decisão. E longe de mim dar uma opinião médica, mas, como paciente, eu acho que vale a pena. 

Recuperação indo. Vamos ver oq mais nos reserva. 

Pietra

Casulando

A tal cirurgia aconteceu. Já não era sem tempo, é verdade. Precisava tirar aquilo que me machucava de dentro de mim. Literalmente. E, a coisa não é simplesmente ir até o hospital, deitar na maca e pronto. Por incrível que pareça, pede uma preparação. Nem tanto do antes. Eu estava bem tranquila. O lance é o depois.   

Pós-operatório é pior que a cirurgia. Certeza. Estou me sentindo aqui, cozendo uma borboleta. 

Quando a lagarta, depois de semanas alimentando-se, prepara a crisálida e torna-se um serzinho pequeno e inerte. Inofensivo, mas também indefeso. Até a borboleta sair, não há independência. Há a transformação. 

Bem… O que vem se transformando por aqui? Muitas coisas e que precisaram de uma semana para sair. Mas, tem mais. Eu sei que tem mais. 

A primeira coisa foi ir ao banheiro sozinha. Depois, desmamar dos remédios Zeusnosajude que eu tomei por meses. Ainda estou brigando com o fato de que estou de repouso na casa dos meus pais. Minha cabeça pensa em tudo que eu poderia fazer. Nem sempre o corpo quer. E como isso gera conflito. 

Tem um corte nas minhas costas. O médico é tão bom que, embora tenha passado por cima da minha flor de lótus, ele não a destruiu. Já senti o buraco. Muito. Agora ele é uma lembrança que ainda tem coisas pra melhorar. O que não temos para melhorar? 

Brevemente, farei um buraquinho no casulo. E estou imaginando o que mais tem para a borboleta que vai sair. 

Pietra