Grata. É como eu me sinto.
Faz 10 dias que a cirurgia aconteceu. E depois de um período sem energia e de recuperação mesmo – afinal de contas, tem um corte nas minhas costas – eu consegui sair de casa para resolver coisas menores, mas que foram muito importantes para mim. Pode parecer a maior besteira do universo, mas, colocar a cara na rua e ver as pessoas fazendo coisas me encheu de alegria, de esperança em todas as tantas coisas que eu vou poder fazer daqui para frente.
Pensei também em como eu consegui levar a vida por seis meses com tanta dor e medicação que hoje consigo perceber como era forte. Eu sinto que estou me encaixando de volta no meu corpo, no meu ser. Estou voltando a ser exatamente o que eu era. Sinto-me pessoa primavera.
E, tudo isso se resume assim: eu sinto uma gratidão que não tem tamanho. Além de ser grata por poder voltar para minha casa, para o meu domínio – Hera saída do estômago de Cronos – a alegria de poder olhar para uma caixa fechada de Tramal e dizer: não, obrigada. Dipirona está suficiente.
Agradeço imensamente a quem quer que seja que puxe as cordinhas do destino (hihihi – e sabemos quem São) por voltar a insurnar os meus bichos, voltar a pensar claramente, sentir uma dorzinha que eu sei que é o machucado sarando.
Nem sei o que dizer das pessoas que estiveram envolvidas em tudo que eu vi e fiz. E o que fizeram por mim. Desde o médico (mãos curandeiras) que entendeu o que estava acontecendo e prontamente desdobrou-se para resolver o meu problema. Inclusive, disse que as coisas acontecem quando tem de acontecer – e quando o momento chegou, estava pronto para mim. Pode ser sim que para ele fosse apenas mais uma quinta-feira de manhã, fazendo seu trabalho. Mudou a minha vida. Obrigada, doutor! De verdade!
Meus pais e sua dedicação incansável… de estar ali do meu lado, trocar curativos, administrar remédios, preocuparem-se com meus movimentos, com o que eu queria ou não comer. Da paciência da minha mãe, ao ver altos e baixos e sorrir, me abraçar e SABER que passaria. E passou. Minha mãe tornou-se uma Musa marinha, de amor oceânico: profundo, calmo e acolhedor. Amo vcs!
Meus sogros, meus segundos pais, que foram a base para que tudo isso pudesse acontecer. Eu nem sei como agradecer o esforço que fazem mensalmente para que tudo ficasse em ordem. Além das visitas, dos mimos e dos infinitos abraços que desferem todas as vezes que apareço ou aparecem. Amo vcs!
Minhas irmãs, de sangue e de espírito, que tomaram parte do seu tempo, embora preocupadas com questões pessoais sérias e iguais, para ouvir blá blá blá e me compensarem com sorrisos e histórias. M. & C., vcs foram apoio para esses pés dormentes. Amo vcs!
Meu marido por sua dedicação de tempo e de físico. Nutriu-me de amor e de atenção todo tempo que eu precisei. Colocou-me de volta nos trilhos quando a minha cabeça cheia de química enegrecia. B. tem o maior colo do mundo. E tenho certeza que nenhum outro em nenhum tempo dedicaria o que B. dedicou a mim. Amo vc!
As pessoas maravilhosas que trabalham na escola que acolheram minha condição desde o dia 1. A humanidade que perpassa aquela escola, aquele ambiente de trabalho é algo que não tem precedentes. Educação é isso. Estar junto com as pessoas e apoia-las para crescerem. As professoras e outros profissionais da escola foram para além de seu papel comigo. Foram meus anjos da guarda enquanto eu tinha dor. Mandam recadinhos quando ela passou. Nunca trabalhei com pessoas assim. Amo vcs!
Tudo que aconteceu no capítulo anterior está virando apenas uma cicatriz. Uma marquinha que há de me lembrar, todos os dias, que eu dobro, mas não quebro. Que o estado natural das coisas é o bem. O Bom, o Belo e o Verdadeiro. Que existem tantas outras páginas a serem preenchidas, talvez com pequenas histórias de terror – afinal de contas, eu já vi isso antes – mas que se tornam apenas contos curtos na roda de vida que nos permite abrir os olhos e respirar. Ar fresco de uma manhã de primavera, recheada de cantoria de sabiás. Bom dia!
Pietra