Luta contra o tempo?

Vira e mexe eu me pego pensando nisso. Primeiramente, quando se assiste televisão de manhã, muitos comerciais falam sobre produtos que combatem o envelhecimento (além daqueles outros tantos que dizem o quanto vc está gorda ou mal vestida, mas isso fica para outro posting). E no geral eu fico pensando em como ou por quê deseja-se tanto combater o envelhecimento. O que estamos tentando evitar? A morte? O tempo? Ambos implacáveis!

Afinal, qual é o grande barato em ser jovem para sempre? Saúde? Agilidade? Vitalidade? Pode até ser. Mas, talvez, se não abrirmos mão dessas coisas todas para o que vem juntamente com a idade, estejamos deixando de lado muitas outras coisas que também são importantes.

Ouvi de uma colega: “quem me dera eu soubesse tudo que eu sei quando eu tinha 15 anos”. É, a natureza é sábia mesmo. Se somos constituídos de sabedoria com a passagem do tempo é porque a juventude do corpo tem seu tempo, seu momento. E talvez se soubéssemos algumas coisas aos 15 anos poderíamos fazer algumas outras besteiras que não fizemos. Ou seja, acredito que daria tudo na mesma. Em termos daquilo que nos equivocamos, como construiríamos alguma sabedoria se não fosse por isso?

Também já li: “sempre é jovem quem mantém a mente jovem. Caso contrário, vc envelhece”. Talvez o que as pessoas queiram dizer com isso é manter a mente ativa, disposta. Penso que envelhecer, deixar o tempo passar e viver a idade que realmente temos nos ajuda a ativar a mente com coisas que efetivamente valham a pena e que não gastem nosso tempo ou nossa energia.

Sabe, as vezes eu vejo pessoas de 50 anos agindo como se tivessem 20. Eu sei que ainda não cheguei aos 50, mas estou longe dos 20 e não gostaria de agir dessa forma. Claro que aos 34 muita coisa eu ainda não vi, talvez persista em alguns equívocos que aos 50 vá pensar: nossa, como pude? Mas acredito que seja importante olhar para frente e pensar no que vem, no que ainda se segue.

Envelhecer vai trazendo nossa melhor versão. A cada ano que passa. A cada pezinho de galinha ao lado dos olhos. Cada minuto que passa penso que podemos nos surpreender com o mundo, aprender uma coisa nova, ter a cabeça aberta para olhar mais além. Não gostaria de me prender no meu tempo de adolescente. Ele foi necessário e serviu ao que foi. Agora é outro tempo. Aos 40, será outro… e assim até Thanatos bater à porta. E então, fica o legado. A importância e a memória de quem pôde deixar algo para quem viveu consigo.

Eu gostaria muito de, quando for velhinha, ser uma velhinha graciosa, andando de braços dados com a vida e em paz com a morte. O sentimento de finitude é que pode, de fato, nos dar o empurrão para fazer a vida realmente significativa. Mesmo porque, pode até ser que reencarnemos etc e tal, porém essa vida AQUI é uma vez só. E ponto final.

O Dia do Curinga, de Jostein Gaarder

Ao terminar “Mrs. Dalloway”, decidi que precisava de uma leitura mais leve. Então, olhando a minha interminável pilha do “para ler”, peguei “O Dia do Curinga”. Eu havia comprado esse livro ano passado, se eu não me engano, porque achei que ia ser legal ter um texto na pegada do “Mundo de Sofia”. 

Em termos literários, aqui temos um texto beeeeeeeeeeem mais simples em escrita e mesmo em trama. Como no “Mundo de Sofia” há uma espécie de história dentro da história e a grande pegada é como as pessoas podem desenvolver um pensamento filosófico. E, embora as colocações sejam bem simples, acredito que seja uma forma interessante de introduzir esse pensamento racional sobre o mundo.

Algumas das propostas que são colocadas no livro é que algumas pessoas são curingas – como o Louco, do tarot. Pessoas que não se encaixam em nenhum dos naipes, em nenhum dos estereótipos, pessoas que têm mais consciência de sua existência e por isso, transgridem regras e buscam respostas. A vida não é dada de graça.

Não posso dizer que eu não concordo com esse tipo de afirmação, porque, mergulhados num mundo como o nosso é muito fácil tornar-se massa de manobra, de cair dentro das engrenagens de um sistema que faz o mundo girar. E por mais que tentemos, muitas vezes, não nos deixar levar, acabamos como os ratinhos do flautista de Hamelin.

Ainda assim, é bom pensar que podemos sim sair da caixinha e que podemos inclusive nos render às nossas limitações de pensamento e entendimento, o que não quer dizer que não podemos tentar diferentes estratégias para pensar e para entender. E, como sempre, quanto mais a gente pensa, mais perguntas faz e assim, quiçá, não deixaremos nunca de pensar.

“Depois de algumas especulações filosóficas, cheguei à conclusão de que ela talvez fosse um exemplar tão raro quanto um curinga feminino. Pois ela acenava para si mesma, isso significava que tinha consciência de sua própria existência. De uma certa forma, ela era duas pessoas. De um lado, era a mulher que estava no salão e passava batom nos lábios; de outro, era a mulher que acenava para si mesma no espelho.” (pg. 170)

Engraçado que, depois de ler “Mrs. Dalloway” e perceber os mil mundos que se passam com as pessoas, é curioso ler um livro que faz algumas reflexões como essas, mas de um ponto de vista de um observador. Penso que nunca, de fato, vamos saber tudo que se passa na cabeça das outras pessoas, por mais que as observemos; por mais que as conheçamos. Sempre existe uma tinta nossa sobre as nossas impressões sobre os outros. Existem as nossas tintas sobre o que pensamos de nós mesmos, e o abismo entre o que pensamos e como agimos socialmente.

Rotina de unhas e a beleza comprada

Quem sabe ajude alguém com algumas dicas. Mas primeiro uma historinha – claro:

Foi no comecinho de 2013 que eu resolvi que precisava de um hobby – na época eu precisava DESESPERADAMENTE de alguma coisa que ocupasse a minha cabeça que não fosse relacionado a “A vida como ela é” do Nelson Rodrigues…

Enfim. Decidi que, se eu gostava tanto assim de maquiagem, unhas e coisas afins, por que não colocar mãos à obra, literalmente? Fiz umas pesquisas – Google mesmo – e resolvi que eu ia cuidar eu mesma das minhas unhas. Sabia que não seria costura ou coisa parecida porque o talento é zero, convenhamos. Bem, com uma ideia na cabeça, corri até a Liberdade (bairro oriental aqui em São Paulo) e entrei no paraíso, quero dizer, na Ikesaki. Comprei tudo que eu achava que precisava: alicate, espátula, creme, algodão, removedor de esmalte, esmaltes – sem dúvida. E comecei. Primeiro vem a alegria: poxa, vou poder trocar de cor a hora que eu quiser, não vou precisar marcar hora com ninguém e vou fazer do jeito que eu gosto sem caras esquisitas para as esquisitices que eu curto. Yey!

Então, citando aquela tão bela música: aí vem o desespero, machucando o coração. Ou melhor, as cutículas. A história do “bife”? Tudo verdade!

Sentei na frente do Google e do YouTube pensando: bom, se tirar cutícula faz sucesso fora do Brasil é porque lá elas fazem de outro jeito e europeu não gosta muito de terceirizar esse tipo de coisa, então como será que elas fazem? A coisa mais óbvia do universo: elas hidratam a cutícula e empurram para não tirar! Foi o ovo de Colombo! Desde então, isso faz quase um ano, não tiro mais cutícula com o famigerado alicate; embora eu tenha testado mil formas diferentes de fazer isso – não com o alicate, mas com alguns truques.

Ultimamente o que eu tenho feito, além de usar a cerinha nutritiva da Granado – esse posting não ganhou um centavo para citar marcas ou lojas, hehehe – tenho usado bastante creme para as mãos, porque professora mexe com água o dia inteiro – parece incrível, mas é verdade.

Na rotina de fazer as unhas, duas coisas me ajudam também. Uma delas é aquelas luvas higiênicas. Elas vem com um creme para amolecer as cutículas dentro. A mão fica mergulhada ali por uns 5 minutos. Depois é só empurrar as cutículas. Quando eu não faço isso (valendo dizer que eu faço as unhas 2x por semana porque sim), uso o creme para cutículas da Granado – cruelty free!

Uma dica final sobre cutículas é fazer uma esfoliação. Primeiro com uma escovinha de unhas, depois com a toalha. Fica lindo e parece que foi feita no salão – o que também dá um sentimento gosto de “eu que fiz”.

O resto é básico: lixar, usar uma boa base, escolher as cores, pintar – tem uns pulos do gato aí, aprendi tudo no YouTube – top coat ou extra brilho e sair linda depois de uma hora sendo o ser mais indefeso do mundo.

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Ao final de uma manicure… Importante notar o pincel. Ajuda imensamente!

A questão aqui é que eu penso que as coisas que acabamos engajando por conta de beleza podem tornar-se escravizantes. Mexer no cabelo, seja corte, química ou mega hair. Unhas, tal e qual. O lance é fazer a coisa mais ou menos dura, restritiva etc e tal.

EU SEI que ir contra cutículas que crescem, meia dúzia de estrias aparecem ou cabelo que deixa a raiz um horror é ir contra a natureza. Só fico aqui matutando se alguns processos não são mais sobrenaturais que outros. Talvez sim, talvez não. Depende de quem faz, da sua renda mensal e até da sua percepção pessoal. O que eu quero dizer com isso é que o quanto mais natural um look é, quão mais próximo do que vc realmente é, menos doloroso, dispendioso ele se torna. Eu sei que estou dizendo isso com o cabelo com a tintura para fazer – tintura aliás, que uma hora eu vou cansar e vou deixar voltar ao natural. Mas, por exemplo, não consigo fazer em cima disso tudo, baby liss para deixar cachinhos que serão inúteis frente a lisura do meu cabelo. Nasci assim, com um cabelo que nada para: fita, presilha etc etc etc…

Eu até acho que podemos melhorar coisas que podem nos deixar mais confortáveis, mas vale um critério. Não acredito mesmo que dor vale muito para ficar bonita e me incomoda quando se diz que ficar bonita dói. Será que não podemos ter processos mais naturais? Sem formol, sem horas no salão? Coisas nossas, mesmo? Entendo que pessoas do setor de serviços precisam de emprego, que existe cirurgia estética, mas não sei se isso tudo resolve se o espelho sempre te rejeita, sabe?

Como eu tinha escrito em um outro posting, o olho é orgânico. E se ele rejeita o que está vendo, vale pensar o que anda errado. Não tem roupa ou maquiagem – ou mesmo cirurgia – que vão fazer photoshop numa pessoa 24/7. Não tem base que vai segurar a poker face o dia todo ou esmalte que vai te deixar com os stilletos da Adelle – acrílico, aliás.

Pode ser que essa seja uma das belezas dos trinta e alguns… talvez vc se conheça um tanto melhor para fazer as pazes com algumas coisas. Parte de quem vc é… e que sua carreira ou sua felicidade não necessariamente estejam ligadas a sua barriga ou suas estrias ou marcas de expressão ou ainda às malditas numerações de roupa (modelagem chinesa, oi?). Envelhecer com graça é uma das dádivas da vida, e aos trinta e alguns algumas dessas já aprendemos a aproveitar. Imagino quantas mais virão com os anos. Mal posso esperar!

Tudo isso dito, vou fazer unhas… Paradoxo, né? Mulheres de mil faces…

Pietra, viciada em esmaltes e que acha que o melhor que podemos fazer com o cabelo é cortar! Adoro!

 

PS: em breve, mais futilidades de unhas e mais reflexões de beleza comprada.

Cozinhar juntos… Programinha de casal

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A batedeira da minha avó. 60 anos de serviços leais!

Coisas que casais podem fazer juntos são muitas. Desde as mais corriqueiras e cotidianas, como ir ao mercado, levar filhos à escola, comprar coisas para casa… até coisas mais lúdicas como sair com amigos, passear no parque, acompanhar um hobby. Mas, uma das minhas favoritas que envolve tanto o cotidiano quanto a diversão: cozinhar juntos.

Penso que cozinhar é um ato transformador em si. Tirar os ingredientes de seus gradientes, misturá-los, cozê-los… Sucos, temperos, pós. Tudo transformado em algo gostoso. Neste caso, para ambos. Conhecer o gosto, o que é apimentado para um ou para o outro? Qual ingrediente eles gostam mais?

Uma panela acaba contendo esse gosto de ambos. Estar juntos para misturar a comida pode mostrar bastante sobre a forma com que as pessoas se integram. Um mexe, outro corta, um mistura, o outro arruma. É uma construção coletiva que todos podem curtir em seguida.

Cozinhar é mágico. Pode parecer um clichê sem tamanho. Mas é a pura verdade. O quanto da nossa atenção ela não toma? Mais: O quanto da nossa vontade de fazer uma coisa gostosa, reconfortante não queremos? Aquela comida que vira os olhos? E o que é a magia senão mudar a realidade por meio da intenção?

No nosso caso em especial, ainda temos o privilégio de concentrar artigos ancestrais, como a batedeira da minha avó. Viu um casamento feliz de muitos anos… está servindo a outro. Batedeira transformadora. Misturadora dos gostos de um e do outro. Batedeira fazedora de casais.

Eu gosto de cozinhar. Cozinho praticamente todos os dias para o B. Agora, amo cozinhar com o B. e curtir as nossas estripulias culinárias juntos!

Ah, essa é uma receita de pavê de sonho de valsa para compartilhar com um aniversário da família. Ficou lindo. Amanhã, eu comento se ficou gostoso.

A receita é bem simples. Três cremes. O primeiro com leite condensado, gemas, leite, maizena e açúcar. Cozinha até formar um creme. Coloca na travessa. Pica-se os bombons e deita-os sobre o creme. Depois, um segundo creme cozido de chocolate em pó, leite e açúcar. Por fim, um terceiro, batido, claras em neve, açúcar e creme de leite. Tudo na geladeira. =)

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Cozinhar pede bagunça e mistureba!

De uma loja sem provadores

E estratégias afins. Não se deixe levar.

Fui à uma loja estes dias a fim de conhecer as roupas em si, uma vez que eu tinha gostado daquilo que estava na vitrine. Entro, faço meia dúzia de perguntas para a vendedora e me encorajo a experimentar umas 3 peças. Qual não é a minha surpresa?

“NÃO TRABALHAMOS COM PROVADORES, SENHORA. É PARTE DA FRANQUIA”.

Mas hein?

Provavelmente a estratégia de “gênio” é que vc goste, compre sem provar e leve pra casa. Servindo, bom, sorte sua. Não servindo, eles trocam. Aí, toca você ir à loja novamente, trocar e quem sabe, pagar uma diferença em uma outra peça ou levar mais uma.

Aqui não, violão.

Em 1823, mais ou menos, eu fiz curso profissionalizante de personal stylist. Nome chique, de cara parece bem inútil, fútil até. Mas algumas pessoas me deixaram tocar seus guarda-roupas e fazer algumas mudanças.

Além disso, é uma mão na roda para aprender sobre você, seu corpo, seu estilo, suas cores – fora tipos de tecido, tingimento, estampas etc etc etc blá blá blá. E uma das regras fundamentais quando estuda-se uma coisa dessas é: prove, experimente, olhe no espelho. O olho é extremamente orgânico: se vc acha que não ficou bom ou que alguma coisa ficou estranha, confie nesse instinto.

Nossas roupas elas vestem o corpo para que, além de não sermos presas por atentado ao pudor – embora eu acredite sinceramente que qualquer uma pode sair como quiser – façamos uma estampa. Não tem jeito: nosso mundo é físico, cheio de limitações, e as roupas acabam formando um rótulo. You dress the part. É uma impressão, uma espécie de assinatura estética. E que pode ser mt útil para diversos fins: de disfarçar partes do corpo a intensificar algumas outras; fazer um tipo… Vestir-se pode ser um grande jogo de faz de conta. E quando gostamos de uma marca, um estilo, um tipo de corte, voltamos à loja, queremos mais. Parece-me bem óbvio.

Saber suas roupas, suas cores é um exercício externo de autoconhecimento. Pode parecer bobagem, mas quanto mais sabemos de nós mesmas seja com coisas simples como: odeio acrílico, adoro algodão, por exemplo, nos ajuda a nos colocarmos melhor no mundo. Sentir-se confortável em sua própria pele, sabendo que está fazendo um bom papel de si mesma é uma das coisas que faz a vida ser mais fluida.

Agora, me contem: que bem faz uma loja na qual vc não pode seguir essa regra? Que não se pode olhar no espelho e dizer: gostei ou detestei?

Saí. Chiando, claro. Recuso-me a comprar uma roupa sem provar. Não vão me ver mais.

O que a professora tem?

E se o primeiro pensamento foi paciência infinita ou sacerdócio, bem, você está enganado.

Concordo que existe um talento. Melhor dizendo, uma vocação. Como alguns têm para medicina ou artes. É uma profissão, como outra qualquer. E como tal, tem de ser levada como uma outra qualquer. Quero dizer, o professor – o bom professor, aliás, é um educador, um formador. Inclusive, todos dentro de uma escola têm esse valor e esse poder. Ser um formador de boas atitudes, de respeito, de crescimento, de autonomia.

Professor, assim, não é necessariamente um cuidador. Sem duvida que, para Ed. Infantil, existe cuidado mesmo porque muitas das crianças que estão ali estão aprendendo sobre seus corpos e suas coisas. É o exercício de autonomia, de desprender-se para voar a vida.

O importante é compreender também que os professores têm muitos em suas salas e, embora tenham seu carinho e apresso pelas crianças, não se trata de um amor ou de um cuidado maternal. É uma outra esfera da coisa. E o professor tem de ser visto como um médico é visto: como um especialista da educação, da formação das crianças.

Professor tem formação, tem planejamento, tem estratégias e tem palavras que precisam ser ouvidas e compreendidas pelos pais como aquelas de parceria.

Professor tem agenda para olhar, bilhetes a responder, atividades a planejar, executar e avaliar. Tem crianças a despertar o interesse e ajudar a organizar o que aprende. Professores brincam, cantam, contam histórias, ouvem, conversam, ponderam.

Professor é aquele que está entre a vida pública e privada dos seus alunos e são os que mostram onde olhar, mas perguntam: o que você está vendo?

Lendo Virginia Woolf

São 141 páginas. Já se foram umas 80. E foi o domingo inteiro. Ok, está no original – em inglês. Mas nunca imaginei que fosse tão complexo ler Virgínia Woolf.

Tudo começou ano passado quando eu vi “As Horas”, de Stephen Daldry e terminei com aquela atitude tácita. Acho q eu nem conseguia me mexer direito. Fiquei pensando, “uau, tem coisas pra dizer essa Virignia Woolf.” E arrisquei. Comprei “Mrs. Dalloway”. E enrolei até agora.

Tenho esbarrado bastante em Woolf. De amigas que contam de terem lido a referências variadas em aulas e textos de literatura. Como eu não tenho medo de Virgínia Woolf, peguei o romance.

Complexo. Existem questões que são por conta de vocabulário e de costumes que não temos mais. Foi publicado em 1925. Mas, além disso, as idas e vindas do texto, do pensar das personagens, funciona muito como o nosso pensamento. Que distancia-se, que sincretiza, que cola uma lembrança na outra.

E quem nunca, andando pela rua, em meio a afazeres não se pega em mil reflexões? Imagina isso tudo em meio a pensamentos que não são seus, mas com os quais você se relaciona?

Questões de guerra… De um homem que não consegue sentir mais nada; um outro que lembra-se da amada quando era jovem; de uma mulher que faz o melhor para continuar sempre vibrante – talvez Clarissa fosse libriana…
Fico pensando se essa forma de escrita não reflete exatamente como costumamos pensar e talvez por isso seja tão profundo e longo em interpretação. Aliás, que mania de linearidade que temos se nada é assim. A lineariedade, a ordem, uma coisa após a outra não podem ser. O mundo não é estanque. Imagina o pensamento que é tudo menos físico. Pensamento não tem limite. Ele encadeia, é verdade, mas não pode ser posto em caixas, um do lado do outro. Pior ainda na escrita woolfiana.

Por enquanto, o que eu posso dizer que, pelo número de páginas, eu deveria ter terminado a leitura. Impossível. No meio dela, parei várias vezes para fazer pesquisas para entender tanto o contexto, quanto as personagens.

Vou terminar logo. E sinto-me impelida a ir logo para “a room of one’s own”.

Queria saber o que é isso comigo de meio que viciar em autores. “O ano da morte de Ricardo Reis” já está começado e descansando ao lado da cama. Não esqueci Saramago. Nem Mia Couto. Minha estante ganhou uma inglesa. Imagino o que conversariam durante um chá.