Ame a pessoa que você é

Entre uma imagem e outra, há 8 meses de diferença, 14 kg e muita perspectiva.

Hoje é um dia especialmente marcante para mim. Desde sempre, falta uma semana para o meu aniversário – inclusive, adoro – e me faz pensar em uma porção de coisas. Pelo menos para mim, não tem jeito. Perto de aniversário, vem aquele momento de pesar tudo que aconteceu em um ano. 

Há um ano, eu estava passando por um momento bem delicado da minha vida. Eu queria ser operada a qualquer custo. Porém, neste dia, em 2015, uma pessoa morreu na mesa de cirurgia. E a minha não aconteceu. Frustrada, eu apreciei a tristeza alheia. Naquele dia, eu não sabia o que estava por vir. Mas veio. E os frutos estão aqui hoje. 

Claro que eu não sei onde tudo isso ainda vai dar. Mas, daqui um ano a gente conversa. 

O fato é que a roda virou tantas vezes de lá pra cá, nasci e morri tantas vezes. Sou outra pessoa. Hoje, nem de longe, poderia me apresentar com as mesmas credenciais de 2015. Talvez sejamos como esses comerciais de carro: conheça o modelo 2016 etc etc etc. 

Aprendi nesse meio tempo o quanto a gente realmente batalha para se tornar quem somos – ou quem achamos que somos. Geralmente são batalhas silenciosas, mas certamente com derreamento de sangue. O nosso próprio. Em nossas mãos. Quantas vezes não matamos o que somos para realizar o melhor que podemos ser? Eu não sinto por aquela que se foi. Eu celebro a vida desta que está presente. E talvez, daqui um ano, já esteja morta e enterrada. 

Eu sempre fui uma pessoa de boa autoestima. Como todo mundo, sempre tem um lance aqui ou ali para acertar. Mas, o que é o mundo, certo? Nem ele roda redondo – a órbita da Terra é elíptica. E nesses ovais transeuntes, nos encontramos em uma esquina. Nos cumprimentamos com entusiasmo. Perguntamos da família e vamos tomar um café juntas. Vamos nos encontrando em pedaços de realização dos processos que passamos. 

Eu, em setembro de 2016, quase 37 anos nas costas, sou mais leve. E embora, por vezes acredite que os conflitos que carregue sejam mais pesados que os de antes, me recordo da Pietra de setembro de 2015 e penso: “sabe nada, inocente”. 

2016 me deu perspectiva. De como as coisas mudam – o tempo todo. Hoje eu saltito, mesmo quando a carranca pesa na cara. 

Um dia, o Buda disse: 

Eu lhes mostrei o caminho da liberdade. Agora, a liberdade depende de vocês. 

E isso é verdade. Se não tomarmos nossas vidas em nossas próprias mãos, nem o Buda (ou insira aqui quem poderá nos defender) poderá nos ajudar. 

A impermanência é a lei. Esteja onde você estiver. Os pensamentos vão e vem. As coisas estão aí para serem usadas e pessoas para serem amadas. Livre-se de qualquer excesso. Faça da vida uma galeria de arte extremamente bem curada – você conhece seu gosto e seus talentos melhor do que ninguém. 

Espero que a Primavera que se avizinha seja generosa para cada um de nós. E que continuemos bem. Que nos amemos. Pois foi uma luta chegar até aqui!

Pietra

A tal moda plus size

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Esta semana estava eu, passeando pelo Facebook, quando me deparei com um artigo falando da propaganda de roupa plus size da C&A – uma loja bem popular por aqui. Fast-fashion, aliás… com lançamentos a cada semana ou duas… enfim… A conversa rolou mais ou menos assim: Propaganda da C&A levanta questão:  que é plus size de verdade? 

E claro que o melhor (?) de tudo é ler os comentários. Seja no Facebook ou na página que saiu a matéria. Tem de tudo um pouco. Gente maior que a modelo da propaganda reclamando que não encontra roupa na loja; gente como a modelo que encontra; gente muito menor que a modelo reclamando que não encontra; gente muito menor que a modelo dizendo que encontra, mas na parte de roupa juvenil… e por aí vai. Foi um desfile de alturas, pesos e medidas, buscando talvez um senso comum para essa história toda. Inclusive, li um comentário de uma moça que trabalhou na C&A e esclareceu um pouco da política de compras das lojas para tamanhos muito grandes ou muito pequenos: eles encalham. Logo, a disposição de peças é muito menor. Achou, comprou porque senão, não acha mais.

Muito bem. Eu não vou mentir que não fiquei com essa coisa toda na minha cabeça. Primeiro porque, se as tais peças não existem na loja, será que estamos falando de propaganda enganosa, ou simplesmente, elas foram vendidas e azar de quem não vai toda semana à loja conferir o cardápio? Segundo, o que é plus size? Terceiro, temos mesmo de recorrer ao fast fashion para poder vestir nossos corpinhos – seja de que tamanho sejam? Quarto, meus deuses, que inferno essa coisa de numeração de roupa e que inferno que estamos fazendo dentro de nossas próprias cabeças cismando com 38, 40, 42, 50? E por fim, quem é qualquer cara-pálida no Facebook para dizer: você é gorda, pare de comer, malhe e emagreça senão nunca vai encontrar roupa?

Aliás, preciso dizer: que coisa inacreditável a falta de educação que corre entre os comentários. De qualquer matéria, eu acho. Eu duvido que as pessoas tenham coragem de ser assim na vida real. Que se aproveitam de uma tela de retina para postar grosserias aos outros que discordam de seus pontos. Além de falta de interpretação de texto, como falta ética entre as pessoas para estabelecerem qualquer comunicação. Talvez resultado do universo de Fla x Flu, esquerda x direita que vivemos hoje em dia… Que pena de quem gostaria de um caminho do meio.

Infelizmente, no nosso mundo, lucra-se muito com as inseguranças das pessoas. Assim, esse “acolhimento” do plus size talvez seja uma forma espertinha de dizer: cara cliente, nos importamos com você. Bull shit. Nos importamos com o lucro que vem da sua insegurança, então venha gastar seu tempo e seu dinheiro em nossa loja – a qual não temos certeza de como os produtos são feitos, em quais condições trabalhistas, por exemplo – para achar que você vai se sentir linda e acolhida. Pode ser que a intenção seja ótima, mas como dizem, de boas intenções, o inferno está cheio. Ou seja, não existe uma preocupação genuína com as pessoas que vistam mais que 46 (que também é um número extremamente arbitrário). A preocupação é levar as pessoas para dentro da loja. E se não encontram uma peça que lhes sirva, quem sabe levem um sapato ou uma bolsa para compensar a frustração de não ficarem bem em nada. O que ainda não significa que o corpo da pessoa seja inadequado. De forma nenhuma. O caimento das roupas e o material que são feitos são extremamente duvidosos… Aposto 20 reais que as fotos feitas com as tais roupas de coleção foram muito bem tratados, muito obrigada. Mais do que isso ainda, o afã de “inclusão”só ajuda a criar um ciclo imenso de expectativa e frustração que, infelizmente, as pessoas tentam encher com mais e mais coisas, roupas etc.

Numeração de roupa. Não existe na vida algo mais pernicioso que isso. Faz-se acreditar que um número X cabe em pessoas de determinadas medidas. Oras bolas, quem tem exatamente um corpo igual ao outro? Isso quer dizer que essas roupinhas fast fashion são feitas de uma forma genérica, de acordo com uma modelagem, que segundo dizem ainda, vem de modelos chinesas – o que a brasileira tem de corpo chinês se não é descendente???? – e são exportadas para o mundo todo. É barato fazer na China, na Índia, em Bangladesh. O que mata, literalmente, é o custo disso para as pessoas empregadas nesse setor… Alguém sabe o que aconteceu com o Rana Plaza em 2013? Não??? Dá um Google e veja o quanto custou uma blusinha mequetrefe da Forever 21 para muitas famílias.

Meninas… meninos… pessoas. É sabido que no mundo da moda tudo se faz para manter o condomínio na praia de alguém. Ou o carro caro e os 80 empregados domésticos de um empresário de marcas gigantes. Eles investem na sua inadequação. No seu senso de não ser própria, linda e perfeita. Tentamos lidar com essas aceitações sociais de várias formas: cosméticos, roupas e cirurgias. No entanto, as únicas que pessoas que não estão enchendo as burras de dinheiro, são as pessoas normais como eu e você que podemos vestir 38 em uma loja e 42 em outra. Logo, seguem algumas ideias para, além de aliviar o consumo, o uso insano de recursos humanos e materiais, dar uma paz para a cabeça:

  • Não coloque seu dinheiro em fast fashion. É muito provável que o que você comprar hoje por modinha, vai durar pouco; seja pela qualidade do material, seja pelas tais tendências que mudam. Invista em peças de boa qualidade e que sirvam a diversas ocasiões e combinações. Menos é mais em quantidade. Podemos até gastar mais em algumas peças, porém garantimos o seu bom estado por muito tempo.
  • Resista firmemente a “retail therapy”, ou a terapia das compras. Não compre quando estiver triste demais ou alegre demais. O seu cartão e seu armário agradecem.
  • Conheça seu corpo. Pesquise, entre no seu guarda-roupa e veja o que lhe cai bem. Nada mais, nada menos.
  • Quando numa loja, não peça um número específico. Nós não temos a menor ideia de como é a modelagem daquela empresa. Quando me perguntam números, eu sempre digo: não sei, me diz você, para a vendedora. Ela sabe o que tem lá e pode ajudar. E se a numeração não for do seu agrado, de duas, uma: ou saia sumariamente da loja OU corte a etiqueta quando chegar em casa. Um número não pode ditar seu estado de espírito.

Ganhar etiquetas como plus size, que eu mesma já ganhei, ou roupa juvenil é querer andar com uma etiqueta. Elas não fazem NADA por você. É você quem faz. As escolhas são suas. O dinheiro é seu. As mudanças de estilo de vida ou de roupas igualmente. Logo, não se deixe ditar o que fazer.

Beijos,

Pietra