A palavra “coisa” tem uma abrangência imensa na língua portuguesa. Pode referir-se a objetos, ações, motivos, momentos, motivações… aquelas coisas que coisam mesmo dentro de nós. Porém, estou pensando nas coisas físicas que, por falta de uma palavra que as exprimam melhor, acabam por tornar-se “coisas”. E que, talvez, corram um risco absurdo de terminarem num canto… coisando a casa da gente.
Infelizmente, estamos imersos em um mundo em que coisas têm uma valor intrínseco muito maior do que o seu real. Desde que somos crianças – e pobres crianças, aliás – somos bombardeados sobre o quanto ter determinadas “coisas” farão com que sejamos mais felizes, bonitos, aceitos… A questão estética, por exemplo, ganha um valor imenso que foge do seu princípio original: de encantar e até de tornar-se um escape aos horrores que nos cercam.
Claro que além disso, existe um sistema que deseja que consumamos o tempo todo. Sejam produtos, sejam ideias, seja o que seja… isso gera dinheiro para alguém. E precisa-se de dinheiro para viver, certo? Certo… no entanto, onde exatamente estamos aplicando o nosso dinheiro, fruto do nosso trabalho? Corremos o risco sério de estar alimentando mais e mais um sistema que faz os grandes lucros tornarem-se maiores ainda. EU SEI que estou escrevendo isso de um computador feito por uma grande corporação. E que a imagem desse post foi editada num telefone feito pela mesma corporação. No entanto, ao invés de tentarmos generalizar e criar um “mal encarnado” nas coisas, que tal nos levarmos minimamente pelo discernimento e pela reflexão.
Sim. Eu tenho um computador. Sim, eu tenho um smartphone. Infelizmente, são coisas que são parte do nosso mundo moderno e que nos possibilitam uma porção de vivências – como esta de poder me expressar publicamente, fora da minha roda de amizades. O computador me faz mais feliz? Talvez, pois ele é uma ferramenta. O smartphone me faz mais feliz. Talvez, porque ele é uma ferramenta. Poderia abrir mão dos dois? Talvez. No entanto, não vou sair por aí loucamente trocando os dois porque um novo modelo mais brilhante saiu no mercado.
Acho que essa é a reflexão que temos de fazer. O que eu tenho, tem valor real na minha vida? Como eu sou feliz com aquilo que eu já possuo – antes de criar uma nova wishlist.
Acredito que esse seja o movimento principal das coisas: o que você tem, tem valor agregado para você? Ou seja, você usa? Precisa?
Pode parecer meio duro, eu sei… mesmo porque também aprendemos que ter sucesso é ter um patrimônio. Isso é segurança. É estabilidade. E pode ser mesmo. Mas… temos condição de cuidar de tudo que temos? Mais ainda: temos condição de cuidar do que ainda queremos? Temos efetivamente que nos stressar e nos fritar a cabeça por aquilo que desejamos?
Não tenho respostas prontas… mas, tenho dado alguns passos… E talvez, as primeiras reflexões sejam olhar ao nosso redor e pensar: o que isso (coisa) tem de significado para mim?
Quem sabe isso não nos leve a reflexões maiores de identidade de lugar no mundo?
Um passo de cada vez.
Pietra
tenho pensado nisso toda vez que abro meu guarda-roupa…
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Acho que deveríamos organizar uma festa de troca de roupas e acessórios… o que não tem mais sentido para umas, pode fazer outra feliz =)
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